Na última semana de outubro, a capital fluminense sofreu com fortes chuvas que levaram diversos pontos da cidade carioca ao estágio de alerta. Nas favelas, sirenes da Defesa Civil foram acionadas em diversas comunidades, como informou o jornal comunitário Voz das Comunidades, no dia 26 de outubro.
Eventos como este, além das ondas de calor, tempestades e ventanias tem sido frequentes não somente no Rio de Janeiro como também nas principais capitais brasileiras. E, de acordo com ambientalistas, devido as mudanças climáticas causadas por ações extrativistas (obtenção de recursos naturais para fins econômicos), a tendência é que estes eventos aumentem nos próximos anos.
Segundo uma publicação da WRI (World Resources Institute), devido às mudanças climáticas, milhões de pessoas em áreas urbanas pelo mundo irão presenciar níveis crescentes do mar, inundações, tempestades mais intensas e períodos mais frequentes de calor e frio nos próximos anos. Um outro fato apontado na publicação é que os moradores de favelas são os mais vulneráveis às ações climáticas por viverem nas margens dos rios e encostas, além de áreas suscetíveis a deslizamentos.
Esses casos viram os holofotes para um problema que é recorrente nas favelas brasileiras, a resiliência climática. Ano após ano, diversas favelas sofrem com fortes chuvas, ventanias, enchentes, deslizamentos de terra e mais recentemente como vimos em Manaus após a seca dos principais rios, uma grande tempestade de poeira. São anos de trabalho e economia dos moradores que escoam pelo ralo, no evento climático mais próximo. A capacidade de se adaptar e reagir a esses eventos requer planejamento, intervenções integradas e recursos financeiros. Um conjunto de ações que articuladas, podem reduzir os impactos climáticos para a população favelada e periférica.
Por isso, pensar em resiliência climática para os territórios de favelas e comunidades periféricas precisam ir além das sirenes de alerta que avisam o sobre os eventos quando já estão prestes de acontecer. É necessário construir políticas climáticas voltadas para as favelas. Endereçando políticas públicas que possam destinar recursos para resiliência climática nas favelas é urgente, e este deve ser o primeiro passo.
Feito isso, é fundamental construir um planejamento de ações integradas que contribuam com a adaptação e mitigação de impactos. Para que as favelas estejam antecipadas aos eventos e aqueles que estejam mais expostos aos riscos, possam ser remanejamos para outro local dentro ou nas intermediações do território. E para isso, é preciso articular também políticas habitacionais e de assistência social.
Assim como há monitoramento em centros de controle, é necessário mobilizar e instruir moradores chaves para monitorarem e agirem durantes os eventos, tendo seus próprios centros de monitoramento e controle, equipados e geridos por governança participativa e comunitária. Estando a frente e preparadas para as ocorrências.
Além disso, também é urgente investir em infraestrutura urbana nos territórios vulneráveis, investindo em ações de mitigação com Soluções baseadas na Natureza (SbN) e que permitam maior permeabilidade e retenção das águas das chuvas, bem como estruturar ruas, becos e vielas com intervenções de microdrenagem. Outro ponto importante de infraestrutura diz respeito à eficiência energética.
Os eventos climáticos contribuirão cada vez mais com apagões de energia elétrica afetando o dia a dia como também os equipamentos eletrônicos dos moradores de favelas. Segundo o relatório ‘Eficiência Energética nas Favelas’ realizado pela Rede Favela Sustentável e o Painel Unificador de Favelas, 1 em cada 3 moradores já perdeu eletrodomésticos e alimentos durante picos de luz. Isso reflete na penalidade da pobreza que essas famílias tem por viverem em situação de vulnerabilidade. Encontrando dificuldades de romper com o ciclo de pobreza por terem que despender recursos para sanar os danos e prejuízos causados por esses eventos, mantendo-se constantemente em vulnerabilidade.
A resiliência climática é um desafio para diversas cidades Brasil afora, mas com vontade política, articulação intersetorial e participação social, podemos estar um passo a frente, preparados para o próximo evento extremo que virá. Até porque, embora tenham grande contribuição para salvar vidas nas favelas, as sirenes por si só não resolvem o problema.
Por isso, está na hora de darmos um passo adiante!
Referências bibliográficas:
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